quinta-feira, 29 de novembro de 2007

O repertório foi simples assim:

Começou com um sambinha de fundo, coadjuvante para o risoto muy sofistcado que o Marelo preparava na cozinha. Nós, espectadores bêbados e famintos, ficamos meia banda pra cozinha meia banda pro quintal. Mas como criança mal educada fica sem comida e sem sobremesa, mantivemos a pose. E ganhamos canapés, e doses extras de vinho. E aí o repertório continuou. Sempre proporcional à embriaguez. Se começamos com o sambinha baixo e discreto num clima bossa nova, terminamos com Sinatra. E no último volume: “I`ve got youuuuu under my skiiiiin...”. Aos olhos dos OUTROS pode até parecer estranho cantar muito, daquele jeito que só pulmões beem cheios agüentam. Pode parecer estranho abrir um guarda-chuva dentro de casa, subir no banquinho, imaginar uma escadaria. E descer degrau por degrau articulando cada palavra da musica.
Mas os OUTROS não importam. Não ganharam o “tique”da viagem.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Nem só de pão vive o Homem (se bem que eu passaria muuuito bem)

O ato de se alimentar foi se aprimorando (ou piorando?) no decorrer do tempo.
Se antes colhíamos / caçávamos para sobreviver exclusivamente, hoje transformamos este momento em um evento social, onde o que é consumido perde importância. As pessoas precisam papear, jogar conversa fora, e com a escassez de tempo (valha-me Deus!) o momento das refeições tornou-se o intervalo pra levar a criança pra escola, ou até pagar uma conta no banco.
Mas há atividades piores para fazermos a dobradinha com as refeições. São elas:

Almoço + Trabalho – não me refiro àqueles longos encontros bancados pela firrrma em restaurantes caros da cidade, mas falo de comer um sanduíche qualquer na frente do computador. Isso é terrível, se a pessoa não tem nem tempo de mastigar, quiçá manter uma higiene básica como escovar os dentes...

Jantar + TV – Momento em que os solitários (voluntários ou não) se jogam no sofá, com um prato no colo. Se o programa de TV estiver interessante ainda correm o risco de perceber que o prato supostamente aquecido no microondas estava morno só na última garfada.

É por essas e outras que o paladar perde terreno no dia a dia de loucura. Estamos cada vez mais brutos. E a medida que isso ocorre, tenho a impressão que uma crosta cresce na nossa língua (e temo que avance para o cérebro).
As nuances de sabor parece que não existe mais. Adolescentes não distinguem azedo do amargo, e crianças não conhecem couve nem brócolis, mas (como aponta o muy gran filósofo da culinária pop Jamie Oliver) antes de serem alfabetizadas distinguem o símbolo da Pizza Domino`s.

Eu, ao menos, tento descobrir novos sabores. E é por isso que institui uma regra (só pra mim, é claro): existem refeições que foram feitas para apreciar em silêncio!
Um salame com chopp no jogo de futebol pede um papo, ou até uma discussão mais "acalorada". Um fondue com namorado também exige uma conversa (leve, nada de discutir relacionamentos...). Essa exige um elogio ao pé do ouvido, claro. Um pastel na feira, ou uma isca de peixe na praia pede um assunto qualquer, de preferência que não exija muito conhecimento técnico nem grandes teorias.
Mas ao sermos apresentados a um prato típico de algum lugar do mundo, isso exige concentração, e SILÊNCIO!
E só os grandes amigos são capazes de entrar na onda e acompanhar, mesmo que de maneira inconsciente. Só um grande amigo percebe que o momento que estamos mastigando não é a deixa pra ele falar. É sim o nosso momento de apreciar.
Depois destes bons momentos, o que eu posso fazer é agradecer: muito obrigada! Ah, posso também marcar mais almoços bacanas.

Desta vez os novos (pra mim) pratos descobertos foram dois da culinária judaica:
- Guelfite fish: bolinhos de peixe cozidos com molho picante de raiz forte e beterraba.
- Varenike: uma massa recheada com batatas e cebolas.
Sei lá... Acho que é isso. E bom apetite aos que se aventurarem!

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Amizade é...

Não é sempre que a gente tem boas notícias pra dar aos amigos. Geralmente o que rege as conversas são as reclamações e pequenos dramas do dia-a-dia como o chefe que pega no pé, a briga com namorado, ou até a azia pós-álcool ... Enfim, é bom e importante ter amigos pra falar sobre tudo isso, mas haja amizade se não existe contra-partida, certo? Desta forma, o interlocutor acaba por virar um muro de lamentações. E amizade é feita de troca. Um dia eu reclamo, no outro é dia do meu amigo reclamar. Não necessariamente nesta ordem e só com esta intenção. Podemos e – principalmente - devemos também falar de coisas boas. E nestes momentos é que percebemos a intenção de um amigo. Aqui me refiro aos amigos de verdade, afinal todo mundo tem suas idiossincrasias (ui, falei bonito!), suas dificuldades, suas curvas de humor. E com isso eu sempre me preocupei: se um amigo próximo está disposto a ouvir minhas dúvidas, queixas, ou filosofias de boteco... Muitas vezes deixo de falar para não incomodar, mas as coisas boas eu filtro menos, afinal são boas. E não é que até hoje me surpreendo ao perceber que alguns deles não querem compartilhar das novidades!? Dificuldade deles, e mais uma queixa minha que, desta vez, não vou deixar de falar.