segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Nem só de pão vive o Homem (se bem que eu passaria muuuito bem)

O ato de se alimentar foi se aprimorando (ou piorando?) no decorrer do tempo.
Se antes colhíamos / caçávamos para sobreviver exclusivamente, hoje transformamos este momento em um evento social, onde o que é consumido perde importância. As pessoas precisam papear, jogar conversa fora, e com a escassez de tempo (valha-me Deus!) o momento das refeições tornou-se o intervalo pra levar a criança pra escola, ou até pagar uma conta no banco.
Mas há atividades piores para fazermos a dobradinha com as refeições. São elas:

Almoço + Trabalho – não me refiro àqueles longos encontros bancados pela firrrma em restaurantes caros da cidade, mas falo de comer um sanduíche qualquer na frente do computador. Isso é terrível, se a pessoa não tem nem tempo de mastigar, quiçá manter uma higiene básica como escovar os dentes...

Jantar + TV – Momento em que os solitários (voluntários ou não) se jogam no sofá, com um prato no colo. Se o programa de TV estiver interessante ainda correm o risco de perceber que o prato supostamente aquecido no microondas estava morno só na última garfada.

É por essas e outras que o paladar perde terreno no dia a dia de loucura. Estamos cada vez mais brutos. E a medida que isso ocorre, tenho a impressão que uma crosta cresce na nossa língua (e temo que avance para o cérebro).
As nuances de sabor parece que não existe mais. Adolescentes não distinguem azedo do amargo, e crianças não conhecem couve nem brócolis, mas (como aponta o muy gran filósofo da culinária pop Jamie Oliver) antes de serem alfabetizadas distinguem o símbolo da Pizza Domino`s.

Eu, ao menos, tento descobrir novos sabores. E é por isso que institui uma regra (só pra mim, é claro): existem refeições que foram feitas para apreciar em silêncio!
Um salame com chopp no jogo de futebol pede um papo, ou até uma discussão mais "acalorada". Um fondue com namorado também exige uma conversa (leve, nada de discutir relacionamentos...). Essa exige um elogio ao pé do ouvido, claro. Um pastel na feira, ou uma isca de peixe na praia pede um assunto qualquer, de preferência que não exija muito conhecimento técnico nem grandes teorias.
Mas ao sermos apresentados a um prato típico de algum lugar do mundo, isso exige concentração, e SILÊNCIO!
E só os grandes amigos são capazes de entrar na onda e acompanhar, mesmo que de maneira inconsciente. Só um grande amigo percebe que o momento que estamos mastigando não é a deixa pra ele falar. É sim o nosso momento de apreciar.
Depois destes bons momentos, o que eu posso fazer é agradecer: muito obrigada! Ah, posso também marcar mais almoços bacanas.

Desta vez os novos (pra mim) pratos descobertos foram dois da culinária judaica:
- Guelfite fish: bolinhos de peixe cozidos com molho picante de raiz forte e beterraba.
- Varenike: uma massa recheada com batatas e cebolas.
Sei lá... Acho que é isso. E bom apetite aos que se aventurarem!

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